23 de dezembro de 2011

Boom do mercado brasileiro atrai novos fabricantes de iates

“Muitas pessoas decidem comprar um barco em vez do segundo carro.” A afirmação é de Eduardo Colunna, presidente da Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e seus Implementos (Acobar), que exemplifica o aquecido mercado de barcos e iates no Brasil. Hoje o país conta com cerca de 100 fabricantes – 30% a mais do que há cinco anos –, com uma produção de 5.300 unidades para este ano, contra 4.700 em 2010.

O reflexo dessa expansão é a chegada de fábricas próprias no país dos principais fabricantes de barcos e iates no mundo, que pretendem aproveitar a maré de crescimento anual de 10% do mercado brasileiro. Até agora são cinco: os italianos Ferretti, Azimut-Benetti e Sessa Marine, a francesa Beneteau e a americana Sea Ray. Com as plantas locais, os consumidores não precisarão esperar os seis meses de importação para navegar em seus mimos.

A fabricante americana é a mais recente a anunciar sua entrada no Brasil. Representada no país pelo grupo YachtBrasil, a Sea Ray começa a construção de sua fábrica própria no segundo semestre, em Santa Catarina. “O Brasil é realmente o país da contramão. Enquanto a demanda cai na Europa, por aqui só vai crescer”, disse Mario Sérgio Sergenti, gerente comercial da YachtBrasil, que representa outras três marcas.

Desde 2009, o grupo trabalha também com a marca italiana Azimut-Benetti, uma das mais tradicionais do mundo, que também terá sua fábrica própria em funcionamento no primeiro semestre do próximo ano. Serão 200 milhões de reais investidos na unidade de Itajaí, em Santa Catarina. O Brasil vai produzir 100 unidades por ano de dois modelos – o equivalente a 25% da produção do grupo no mundo. A instalação da fábrica se justifica pelo fato de o Brasil ter sido o país que mais comprou barcos da Azimut-Benetti no mundo em 2010, num total de 120 unidades.

Há 20 anos no país, em parceria com o empresário Marcio Christiansesn, o grupo italiano de luxo Ferretti inaugurou sua fábrica no início do mês, em Vargem Grande Paulista, no interior de São Paulo. A unidade, que teve investimentos de 40 milhões de reais, produzirá 60 barcos por ano, com faturamento previsto de 400 milhões de reais para este ano.

Quem vai desembarcar em breve por aqui é a também italiana Aicon que, em fevereiro, afirmou que avaliava a fabricação de três modelos da empresa em Itajaí, Santa Catarina. Em outubro, a francesa Beneteau anunciou que investirá 200 milhões de euros em uma fábrica na cidade Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Em abril, outra italiana anunciou que terá fábrica própria no país: a Sessa Marine. A empresa começará a operar junto a Intech Boating, em São José, mas até novembro terá sua sede em Palhoça, Santa Catarina. No primeiro ano, a fabricante pretende produzir 36 unidades.

Se antes os principais mercados dessas companhias eram as paradisíacas praias do Mediterrâneo, a quebradeira econômica da região fez com que os grandes grupos internacionais olhassem o Brasil como porto seguro. Entre os motivos, estão a longa costa de 9.200 quilômetros e ainda uma baixa penetração de vendas. Para se ter uma ideia, o mercado americano conta com um barco para cada 23 pessoas. No Brasil a relação é de um para 1.600.

O público ainda é majoritariamente formado por empresários acima de 40 anos, que podem desembolsar pelo menos 1 milhão de reais para comprar esses brinquedos e aproveitar com suas famílias. No entanto, o perfil tende a mudar. “Com a taxa cambial favorável, há um aumento das importações. Com as fábricas no país, a situação vai melhorar ainda mais”, diz Colunna, da Acobar. “Hoje os barcos não são mais vistos apenas como artigo de luxos para ricos.” Ainda assim, são os ricos, claro, quem mais compram. E o Brasil tem um público endinheirado robusto — são 63.000 milionários também.

No ano passado, a indústria movimentou 580.000 milhões de dólares em vendas de barcos novos e usados. O país deve manter o crescimento na casa dos dois dígitos e chamar cada vez mais a atenção de investidores internacionais, mas poderia ser melhor. “Há regiões do interior, com represas, que também mostram o potencial do país, além da costa. Em contrapartida, enfrentamos muitos problemas de infraestrutura. Não há tantos lugares para guardar barcos”, avalia Sergenti, da YachtBrasil. Fato é que a indústria vai crescer, gerar empregos e movimentar a economia. Resta saber como o país vai se adaptar para aproveitar a maré de investimentos que vem por aí.

| Texto de Marcio Orsolini |

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