7 de outubro de 2011


Máquinas Agrícolas e de Construção
Máquinas agrícolas: mercado e produção caem 8%
Anfavea vai rever as projeções para este ano 
Paulo Ricardo Braga, AB 

Milton Rego, vice-presidente da Anfavea e diretor de comunicações e relações externas da CNH (foto), garante: a agricultura brasileira vai crescer no médio e longo prazos, os personagens ligados ao agronegócio vão ganhar dinheiro e o País terá relevância crescente no cenário global como fonte decommodities agrícolas. Ele adverte, no entanto, que incertezas sazonais como o câmbio, taxas de juro, clima, pragas e políticas governamentais tornam difícil fazer projeções com precisão em curto prazo.

Ainda assim, ele se arrisca a estimar que o mercado de máquinas agrícolas (a lista inclui também máquinas de construção, como tratores de esteiras e retroescavadeiras) recuará para 63 mil unidades este ano (68,5 mil em 2010). As exportações devem ficar em 18,7 mil unidades (repetindo 2010) e a produção na casa de 81,7 mil unidades (88,7 mil em 2010). Os volumes representam uma revisão nas previsões da Anfavea, que registram vendas internas de 68,5 mil, exportação de 17,8 mil e montagem de 85,2 mil unidades. O recuo é de 8% na produção e vendas internas.

E quanto ao próximo ano? Em cenário conservador, haverá queda de 5% a 10% na produção de máquinas agrícolas, voltando-se aos níveis de 2009, mas um estímulo à agricultura familiar pode melhorar o panorama. Uma retomada, em todo caso, ocorrerá em 2013.

A indústria de máquinas agrícolas, que fornece tratores, colheitadeiras e implementos, acompanha a curta distância os movimentos do PIB agrícola, com algumas dissonâncias que podem ser provocadas por programas especiais de incentivo à mecanização e ganhos de produtividade. Um trator básico, de 75 cavalos, vale cerca de R$ 60 mil, mas no outro extremos pode-se investir até R$ 400 mil para adquirir um outro, de 300 cavalos, no estado-da-arte, capaz de trabalhar até mesmo sem interferência do operador.

Já uma colheitadeira das mais caras custa R$ 900 mil e, ao contrário do que se pensa, depende ainda de um bom operador para reduzir as perdas para 0,2% do potencial da colheita ou até 0,1%, se o ritmo de operação for mais lento. O georreferenciamento, com base em GPS, leva a ganhos extraordinários, permitindo mapear áreas de plantio, fazer correções do solo em áreas determinadas e reduzir a quantidade de insumos utilizados. "Até mesmo os médios agricultores já recorrem a essa prática, que traduz economia", assegura Rego, lembrando é possível abreviar o tempo da cultura, obter maiores volumes e melhores preços.

Moderfrota e Finame 

O Moderfrota, instituído em 2000 para estimular a mecanização, foi bem nos primeiros quatro anos, com taxa de 12% (metade da Selic) e provocou um importante rejuvenescimento da frota. "Máquinas velhas perdem produtividade. Acima de doze anos de idade, provocam desperdício de 5%, elevadíssimo", explica Rego.

Mas o Moderfrota começou a fazer água em 2005, com inadimplência elevada no programa, apesar das tentativas de promover a renegociação de dívidas. Os bancos se abstiveram de oferecer o financiamento e o setor só recuperou o crédito em 2009, com o Finame PSI, a taxas de 5,5% e um empurrão do mercado em alta. Na época o Moderfrota registrava 9,5% de juros.

O número de tratores e máquinas agrícolas em operação no país é um mistério. O IBGE calculou a frota de tratores de rodas em 788 mil unidades ao final de 2006, mas a contagem não descontou os veículos aposentados ou de baixa utilidade. Para fazer planejamento, as associadas da Anfavea lançam mão de estimativas de escrapeamento de máquinas e veículos, estipulando em 450 mil o número efetivo.

Com base nessa contabilidade, a Anfavea estima que são necessários 35 mil a 40 mil tratores e 4,5 mil a 5,0 mil colheitadeiras novas, todo ano, para manter as necessidades do agronegócio, sem contar a expansão na área cultivada. Na Argentina, onde a safra corresponde a 90 milhões de toneladas (no Brasil são 160 mil), as áreas são relativamente pequenas e permitem a fazendeiros aproveitar de forma cooperativada as frotas de colheitadeiras. "Há até frotistas que vendem serviços na colheita, coisa que não funciona no Brasil em vista das grandes distâncias envolvidas", afirma Rego.

No mundo todo há subsídio à agricultura, em maior ou menor grau. No Japão ele explode para 40% e, na outra ponta, a Nova Zelândia fica nos 5%. Os Estados Unidos vão aos 12%, a União Europeia a 25%. O Brasil anda próximo dos 8%: o produto interno agrícola beira os US$ 180 bilhões, enquanto o governo aplica US% 15 bilhões em financiamentos, garantia de preço mínimo e perdão de dívidas.

O apoio do governo ao setor agrícola costuma ser criticado e há quem defenda um programa baseado em seguro de renda acessível. Os seguros existentes cobram até 30% como prêmio, patamar considerado absurdo mas coerente com o baixo volume de clientes e o alto risco 'coletivo' de prejuízos, como em caso de condições climáticas que arrasem a produção de forma indiscriminada.

Agricultura familiar 

No final de 2008 foi lançado o Mais Alimentos, programa de financiamento a núcleos familiares com limite de R$ 130 mil. A iniciativa provocou a aquisição de 40 mil tratores de pequeno porte e permitiu a agricultores vizinhos se unir para comprar pequenas colheitadeiras em parceria, mas o modelo aplicado à região sul do País se esgotou rapidamente. Só mesmo um refinamento do programa permitiria prever sucesso em outras regiões.

Rego enfatiza que a indústria de máquinas agrícolas está madura no país, alcançando níveis de primeiro mundo na aplicação de tecnologias. As importações de tratores e colheitadeiras são bastante limitadas, mas as exportações estão em nível razoável, equivalente a 23% da produção. Para ele, há um tendência no crescimento da potência dos tratores, embora o avanço da agricultura familiar tenha propiciado avanços nos patamares mais baixos do mercado. "Criamos um novo mercado nessa faixa", afirma o executivo.

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